quinta-feira, 25 de setembro de 2008

MORRER POR CRISTO

Morrer por Cristo constitui uma honra e uma glória:
São Pedro

O que mais atrai sobre nós a benevolência do Alto é a nossa solicitude para com o próximo. Assim, é justamente esta a disposição que Cristo exige de Pedro: Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? (Jo 21, 15). Ele respondeu: Sim, Senhor, tu bem sabes que eu te amo (Jo 21, 15). E Jesus lhe diz: Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21, 15).
Por que, deixando os outros apóstolos de lado, Jesus se dirige a Pedro, a respeito deles? É que Pedro era o primeiro entre os apóstolos, o que falava em nome deles, o chefe do seu grupo, tanto que o próprio Paulo vem consultá-lo um dia, e não aos outros. Para demonstrar a Pedro que podia confiar plenamente em que sua negação fora anulada, Jesus lhe dá agora a primazia entre os seus irmãos. Não menciona que o negou, nem o envergonha com o seu passado. “Se tu me amas, diz ele, permanece à frente de teus irmãos; e dá provas, agora, daquele amor apaixonado que sempre demonstraste por mim, com tanta alegria! A vida, que dizias estar pronto a dar em meu favor, eu quero que a dês pelas minhas ovelhas”.
Interrogado uma primeira vez e depois uma segunda, Pedro apela para o testemunho daquele que conhece o segredo dos corações. Interrogado uma terceira vez, ele se perturba, e o temor o domina. Lembra-se de que outrora fizera afirmações solenes, que os acontecimentos haviam desmentido. E é por isso que procura, agora, apoiar-se em Jesus: “Tu conheces tudo, diz ele, tanto o presente quanto o futuro”. Vede como se tornou melhor e mais humilde, como perdeu sua arrogância e seu espírito de contradição! Perturbou-se ao pensamento de que podia ter a impressão de amar, sem amar realmente. “Tanto estava seguro de mim mesmo no passado, pensa ele, como agora me sinto confuso”. Jesus o interroga três vezes, e três vezes lhe dá a mesma ordem: Apascenta as minhas ovelhas. Demonstra assim o apreço que tem pelo cuidado de suas ovelhas, pois faz, de tal cuidado, a maior prova de amor para com ele.
Depois de ter falado a Pedro deste amor, Jesus prediz o martírio que lhe está destinado. Manifesta desse modo toda a confiança que deposita nele. Para nos dar um exemplo de amor e mostrar a melhor forma de amar, diz ele: Quando eras jovem, tu mesmo amarravas teu cinto e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, outros te cingirão e te levarão para onde não queres ir (Jo 21, 18). Era, aliás, o que Pedro tinha querido e desejado outrora; por isso é que Jesus lhe fala assim. Pedro dissera, com efeito: Eu darei a minha vida por ti! (Jo 13, 37). E também: Ainda que eu tenha de morrer contigo, não te negarei! (Mt 26, 35; Mc 14, 31). Jesus acede ao seu desejo. Fala-lhe desse modo não para amedrontá-lo, mas para reanimar seu ardor. Conhece seu amor e sua impetuosidade; pode anunciar-lhe o género de morte que lhe reserva no futuro. Pedro sempre desejara enfrentar perigos por Cristo. “Tem confiança, diz Jesus, teus desejos serão satisfeitos; o que não suportaste em tua mocidade, suportarás na velhice”. E, para chamar a atenção do leitor, o evangelista acrescenta: Jesus disse isso para dar a entender com que morte Pedro iria glorificar a Deus (Jo 21, 19). E esta palavra nos ensina que morrer por Cristo constitui uma honra e uma glória.

São João Crisóstomo, bispo: Homilias sobre o Evangelho de São João;
Homilia 88 (Patrologia Grega, 59, 477-480)

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