quarta-feira, 24 de setembro de 2008

SÃO JOÃO E MARIA

«E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua Mãe»


Quando Jesus se pôs a percorrer as cidades e as aldeias para anunciar a Boa Nova (Mt 9,35), acompanhava-o Maria, a seus passos presa de maneira inseparável, suspensa de seus lábios sempre que Ele abria a boca para ensinar. A tal ponto assim era que nem a tempestade da perseguição nem o horror do suplício a fizeram abandonar a companhia do Filho, os ensinamentos do seu Mestre. «Aos pés da cruz de Jesus estava Maria, sua mãe». Ela é mãe, verdadeiramente mãe, a que nem nos terrores da morte abandonava o Filho. Como poderia ela ter sido assustada pela morte, esta cujo «amor era forte como a morte» (Ct 8,6), e mais forte até que a própria morte. Sim, de pé ela se mantinha aos pés da cruz de Jesus e a dor desta cruz crucificava-a em seu próprio coração, também; todas as chagas que via no corpo ferido de seu Filho eram gládios que lhe trespassavam a alma (Lc 2,35). É pois com toda a justiça que ali mesmo é proclamada Mãe, e lhe seja designado um protector bem escolhido que a tome a seu cuidado, porque foi de facto ali que se manifestaram o amor perfeito da mãe para com o Filho e a verdadeira humanidade que o Filho recebera da mãe [...].
Tendo-a Jesus amado, levou o seu amor «até ao extremo» (Jo 13,1). Não só os seus últimos momentos de vida foram para ela, como também as suas últimas palavras: acabando por assim dizer de ditar o seu testamento, Jesus confiou a mãe aos cuidados do seu mais querido herdeiro [...]. Pedro recebeu a Igreja; e João, recebeu Maria. Esta parte da herança coube a João como um sinal do amor privilegiado de que era objecto, mas também devido à sua castidade [...] Porque convinha que à mãe do Senhor só prestasse serviços o discípulo bem amado de seu Filho, e mais ninguém [...] E por tal disposição providencial, poderia o futuro evangelista de tudo se ocupar com familiaridade juntamente com a que tudo sabia, aquela que, desde sempre, observava tudo o que a seu Filho dizia respeito e «conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc 2,19).
Beato Guerric d'Igny (c.1080-1157),
abade cisterciense 4º sermão para a Assunção

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