Depois do “Sermão da montanha”, Jesus dirige-se exclusivamente aos seus
discípulos, certamente com um grande carinho e amor, e diz-lhes:
« Vós sois o sal da terra. »
Será talvez plausível de pensar que ao ouvirem esta frase, os discípulos
que rodeavam Jesus, se tenham olhado uns aos outros, interrogativos, como quem
pergunta a si mesmo: “Mas que quer Ele dizer com isto?”
Sem outra introdução, Jesus continua:
« Mas se ele perder a força, com que há-de
salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos
homens. »
Aquela frase inicial e a outra que virá depois, são geralmente “aplicadas”
aos sacerdotes, aos anunciadores da “Boa Nova do Reino”, aqueles que são
chamados e com razão os “outros Cristo na terra”.
Como muitas vezes o fez, Jesus apresenta uma contrapartida ao “sal da
terra”: “se ele perde a força, não serve para nada”.
Logo a seguir, Jesus diz ainda:
« Vós sois a luz do mundo. »
E como na primeira afirmação, logo vem a contrapartida:
« Não se pode esconder uma cidade situada sobre
um monte ; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire,
mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. »
E, ao terminar a sua curta intervenção ― como nos conta o
Evangelho ― Jesus explica em poucas palavras o sentido destas duas
afirmações:
« Assim deve brilhar a vossa luz diante dos
homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está
nos Céus ».
Aqueles que são o “sal da terra” e “a luz do mundo”, não só devem adubar as
almas com o sal das palavras divinas, mais também iluminar estas pelo esplendor
do exemplo pessoal, porque, como diz o salmista, « brilha aos homens
rectos, como luz nas trevas, o homem misericordioso, compassivo e justo »,
que se torna um exemplo a imitar.
O nosso mundo actual precisa de “luzeiros” que brilhem de mil fogos, de
condimento eficaz que o lave da insipidez em que vive, mas, infelizmente, se “a
messe é grande, os obreiros são poucos”; torna-se mais do que urgente “pedir
ao Senhor da messe que envie obreiros para a sua messe”.
O bom Papa Emérito, Bento XVI, falando desta falta de trabalhadores, diz:
« “Rogai ao Senhor da messe para que envie
trabalhadores para a sua messe!". Isto significa que: a messe existe, mas
Deus quer servir-se dos homens, a fim de que ela seja levada ao celeiro. Deus
necessita de homens. Necessita de pessoas que digam: Sim, eu estou disposto a
tornar-me seu trabalhador na messe, estou disposto a ajudar para que esta
messe, que está amadurecendo nos corações dos homens, possa realmente entrar
nos celeiros da eternidade e se tornar perene comunhão divina de alegria e de
amor. »[1]
Mas é necessário que desses trabalhadores de que tanto precisa a Igreja de
hoje, se possa dizer como afirma o salmista:
« O seu coração é inabalável, nada teme ;
reparte com largueza pelos pobres, a sua generosidade permanece para sempre e
pode levantar a cabeça com altivez. »
No mesmo documento citado, o Papa Bento XVI, plenamente ciente das
dificuldades do tempo em que vivemos, diz ainda:
« "Rogai ao Senhor da messe"! Isto quer
dizer também: não podemos simplesmente "produzir" vocações, elas
devem vir de Deus. Não podemos, como talvez noutras profissões, por meio de uma
propaganda bem visada, através das chamadas estratégias adequadas, simplesmente
recrutar pessoas. A chamada, partindo do coração de Deus, deve sempre encontrar
o caminho rumo ao coração do homem. E no entanto, exactamente para que chegue
aos corações dos homens, é necessária também a nossa colaboração. Rogar ao
Senhor da messe significa certamente, antes de mais nada, rezar para isso,
sacudir o coração e dizer: "Faça-o por favor! Desperte os homens! Acenda
neles o entusiasmo e a alegria pelo Evangelho! Faça-os entender que este é o
mais precioso de todos os tesouros e que quem o descobriu deve
transmiti-lo!" »
Num documento de 8 de Dezembro de 2007, a Congregação para o Clero, faz o
seguinte “balanço” e propõe a “boa” solução:
« São realmente muitas as coisas a serem feitas
para o verdadeiro bem do Clero e para a fecundidade do ministério pastoral nas
circunstâncias atuais, mas, exactamente por isso, mesmo com o firme propósito
de enfrentar essas dificuldades e essas fadigas, cientes de que o agir sucede
ao ser e que a alma de cada apostolado é a intimidade com Deus, pretende-se
iniciar um movimento espiritual que, favorecendo uma consciência cada vez maior
da ligação ontológica entre Eucaristia e Sacerdócio e da especial Maternidade
de Maria em relação a todos os Sacerdote, dê vida a uma corrente de adoração
perpétua, para a reparação das faltas e para a santificação dos clérigos, e a
um novo empenho das almas femininas consagradas para que, inspirando-se à
tipologia da Beata Virgem Maria, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote e associada, de
modo singular, à sua obra de Redenção, queiram adoptar espiritualmente
sacerdotes para ajudá-los com a oferta de si, a oração e a penitência. »[2]
Nesse documento importante, vão citadas diversas almas que aceitaram de
maneira heróica essa “maternidade”. Entre elas distinguem-se Santa Teresinha do
Menino Jesus, Doutora da Igreja, a mística belga, Berta Petit e a “nossa”
Alexandrina Maria da Costa.
De uma só alma e de um só coração, oremos ao Senhor para que toque os
corações “maternos” e os disponha a este apostolado santo, de maneira que em
breve, apareçam muitos “filhos”, nascidos desta maternidade espiritual, filhos
que sejam na verdade “sal da terra e luz do mundo”. Amem.
Afonso Rocha
Comentário para o Domingo V do Tempo Comum, ano A.
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